Brasil – Áudios inéditos divulgados pelo Fantástico expõem os bastidores da trama golpista envolvendo militares e civis. Os arquivos, extraídos de celulares e computadores a partir de apreensões e quebras de sigilo, revelam conversas que, segundo as investigações, evidenciam a tentativa de romper a ordem democrática no Brasil.
Entre as gravações, militares em postos de comando incentivam a participação popular e discutem estratégias para pressionar por uma intervenção. Em um dos trechos, um dos interlocutores afirma: “O povo está nas ruas pedindo para que haja uma outra eleição de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara.” Outro participante da conversa questiona: “P***, meu velho, só quem tem quatro estrelas no ombro não está vendo isso?”
O Tenente-Coronel Guilherme Marques de Almeida, que na época estava no Comando de Operações Terrestres do Exército em Brasília, foi um dos que participaram ativamente dos grupos de discussão. Em um dos áudios, ele admite influenciar pessoas dentro dos movimentos civis. “Se eu tiver alguma possibilidade de influenciar alguém dos movimentos, eu estou tentando contar isso nas redes onde eles estão, estou participando de vários grupos civis”, afirma.
Os áudios também mostram que militares de alta patente mantinham contato direto com manifestantes. Em uma mensagem, um civil faz um pedido a um general: “Bom dia, general. Tudo bem? Eu estou precisando de um apoio aqui, e a gente comprou uma tenda e o pessoal não está deixando ela entrar para trocar a polícia do Exército aqui do QG. Eu preciso de um apoio para a liberação.”
Um caminhoneiro também questiona o general Mário Fernandes sobre a duração dos protestos: “Eu queria ver com o senhor qual que é a perspectiva, até quando vocês querem que a gente fique aqui? Ver com o presidente aí, aí eu não saio daqui, eu quero ser o último a sair. Somos um soldado.”
A estratégia dos envolvidos era clara: manter as manifestações nas ruas e continuar questionando a legitimidade das urnas eletrônicas. A investigação aponta que integrantes do grupo buscavam apoio de especialistas para contestar os resultados. “A gente está recebendo caras de TI, hacker. (…) A gente tem cara infiltrado em qualquer lugar, monitorando e passando para a gente as informações”, diz um dos áudios.
O então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, também aparece nas gravações. Em um trecho, ele encaminha ao tenente-coronel Sérgio Cavaliere um áudio de um hacker do interior de São Paulo, que questionava as urnas eletrônicas. “Logo que saíram os arquivos do TSE, vou pegar esses arquivos aí pra ver o que dá pra fazer”, afirma o hacker. Segundo a investigação, o homem teria recebido visitas de agentes da ABIN, mas os materiais apresentados não comprovaram irregularidades.
Os áudios ainda revelam que Mauro Cid informou aos envolvidos que Bolsonaro havia editado a minuta do chamado decreto golpista para buscar apoio das Forças Armadas. O documento previa a anulação das eleições e justificava juridicamente uma intervenção militar. “Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo muito mais direto, objetivo”, disse Cid.
As autoridades apreenderam mais de 1.200 dispositivos eletrônicos, que continham milhares de mensagens de áudio e vídeo. Para processar esse volume de informação, peritos da Polícia Federal utilizaram um software desenvolvido pelo Instituto Nacional de Criminalística, capaz de transcrever 25 minutos de áudio por segundo. Foram elaborados 14 laudos periciais que, segundo a investigação, confirmam a participação de integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro na pressão sobre comandantes militares para aderirem ao plano golpista.
Em um dos áudios, um militar admite a frustração diante da falta de apoio dos comandantes: “Agora está ficando muito claro que o autocomando do Exército está se fechando. Eles estão pensando primeiro na instituição, quando deveriam estar pensando no Brasil”.
As investigações seguem em andamento, e a Polícia Federal segue analisando os materiais apreendidos. O Ministério Público avalia as medidas legais cabíveis diante das novas evidências.
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