BRASIL – Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma transformação radical na forma como a informação é consumida, moldada pela ascensão meteórica das mídias sociais. Plataformas como TikTok, Instagram e podcasts não só revolucionaram o cotidiano dos cidadãos, mas também redefiniram a arena política, especialmente no que tange à percepção pública dos políticos. Em um cenário onde a velocidade e a concisão são essenciais, os políticos estão cada vez mais aderindo ao uso de vídeos curtos — os famosos ‘cortes’ — como uma estratégia eficaz para capturar a atenção, especialmente do público jovem.
Esse fenômeno, que ganhou impulso com a popularização dos podcasts e das plataformas de vídeos curtos, estabeleceu-se como uma das principais táticas eleitorais e de comunicação política contemporânea. Um exemplo emblemático é o Movimento Brasil Livre (MBL), que se destacou como pioneiro nessa abordagem no Brasil, utilizando vídeos curtos e diretos para disseminar suas mensagens e angariar uma base política expressiva. A extrema-direita, em especial, aproveitou essa onda digital para consolidar sua presença e expandir sua influência, muitas vezes recorrendo a conteúdos provocativos e polarizadores.
Hoje, parlamentares de diversos partidos — com destaque para aqueles alinhados à direita — adotam táticas teatrais nos espaços legislativos e em debates políticos, com o objetivo claro de criar conteúdos virais para as redes sociais. Em meio às longas sessões no Congresso, é perceptível que certos deputados estão menos preocupados com o debate em si e mais focados nas frases de impacto que possam ser recortadas e transformadas em conteúdo para suas redes sociais. Nomes como Nikolas Ferreira e Pablo Marçal exemplificam essa nova forma de comunicação política, que visa conquistar e convencer um público específico, defendendo o uso de vídeos curtos como uma ferramenta essencial na política moderna.
Em Manaus, Amom Mandel (Cidadania) emerge como um exemplo dessa tendência. Durante a campanha de 2024, Mandel abandonou a imagem discreta e brincalhona que o caracterizava, adotando uma comunicação mais agressiva, marcada por vídeos curtos que disseminam suas mensagens de forma rápida e eficaz. Essa estratégia tem se mostrado eficiente para atingir um público que, de outra forma, não se engajaria com conteúdos políticos tradicionais.
Mandel, um representante da geração Z, atualmente utilizar as redes sociais de maneira agressiva e direta. Ele deixou para trás a imagem mais discreta e brincalhona, conhecida por frases de efeito como “Beba Água”, e agora investe em vídeos curtos e impactantes no Instagram, TikTok e Facebook. Esses vídeos são eficazes por simplificarem e acelerarem a transmissão de informações, alcançando um público que tradicionalmente não se engajava com conteúdos políticos convencionais.
Entretanto, não se pode subestimar a força da televisão, especialmente no Brasil e no Amazonas. Quem detém mais tempo de TV tende a ser mais conhecido, o que é uma necessidade vital para qualquer político. Este ano, a eleição será a primeira com novas regras eleitorais que alteraram a distribuição do tempo de propaganda.
Outro exemplo relevante é Pablo Marçal (PRTB), que disputa as eleições em São Paulo. Empresário e ex-coach, Marçal utiliza sua experiência em mídias sociais para se destacar no cenário político. Inicialmente visto como uma figura cômica e descartável, ele começou a ganhar tração nas pesquisas após embates diretos e muitas vezes ofensivos com seus adversários, como Guilherme Boulos. A viralização de seus vídeos nas redes sociais deu origem ao chamado “efeito Pablo Marçal”: uma figura subestimada que, ao encontrar um espaço midiático propício, pode transformar popularidade em votos.
Entretanto, não se pode subestimar a força da televisão, especialmente no Brasil e no Amazonas. Quem detém mais tempo de TV tende a ser mais conhecido, o que é uma necessidade vital para qualquer político. Este ano, a eleição será a primeira com novas regras eleitorais que alteraram a distribuição do tempo de propaganda. Candidatos como Roberto Cidade e David Almeida, que juntos acumulam mais de 60% do tempo de televisão e rádio, ainda possuem uma vantagem significativa.
Marcelo Vitorino, professor de marketing político da ESPM, ressalta que candidatos em busca de reeleição, ao defenderem um legado, continuam a se beneficiar do tempo de TV, pois podem exibir suas realizações dos últimos quatro anos. Já para candidatos como Mandel, que não têm um legado a defender, o tempo maior na TV pode ter um impacto menor, uma vez que suas campanhas estão mais voltadas para o ambiente digital.
Mas será que esse fenômeno se replicará em Manaus? Alguns candidatos parecem seguir um caminho semelhante, como Amom Mandel, cuja atuação nos debates e sua disposição para o confronto evidenciam uma estratégia que visa conquistar corações e mentes através das redes sociais. No entanto, o “efeito Pablo Marçal” em Manaus não é garantido. Vale lembrar que, apesar da crescente popularidade, Marçal ainda está tecnicamente empatado com Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em São Paulo, sem uma liderança clara.
Além disso, o eleitorado de Manaus apresenta particularidades que podem desafiar a eficácia dessa estratégia. A capital amazonense possui um contexto político e cultural distinto de São Paulo, onde o horário eleitoral gratuito e as inserções de propaganda na televisão e rádio tem grande influência e a principal arma eleitoral para as massas. Portanto, apostar todas as fichas na viralidade das redes sociais pode ser um tiro no pé para candidatos que tentam emular o estilo Marçal.
Entretanto, apenas o tempo e as urnas dirão se Manaus receberá um fenômeno semelhante. Até lá, fica a questão: a capital amazonense, com suas especificidades, está pronta para eleger um candidato cuja ascensão se baseia apenas na teatralidade ?
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