Manaus (AM) – O desaparecimento de pessoas é uma realidade presente em todo o Brasil. A Polícia Civil do Amazonas, quase que diariamente, divulga nomes e imagens de pessoas que desapareceram em Manaus. Para uma mãe, o sofrimento pode ser ainda maior, pois leva em consideração os aspectos maternos de cuidado, além da dor de não saber o paradeiro de um filho.
Nesse dia em que se comemora o Dia das Mães, o portal Tucumã traz casos de genitoras que transformaram suas dores em lutas e que ainda enfrentam essa realidade angustiante, sentimentos de suspeitas, buscas incessantes e a esperança de encontrar respostas.
Ivanise Espiridião, de 62 anos, Presidente e Fundadora da Associação Mães da Sé, Movimento que surgiu em 31 de março de 1996, em São Paulo, foi impulsionada pela ausência e desamparo, como muitas outras mães no país, enfrentando a dolorosa realidade da busca incessante por um filho desaparecido.

Em média, a cada dia, 183 pessoas desaparecem no país. Nesses casos, 90% das vezes quem vai atrás é a mãe. É a mãe que vai para a delegacia, é a mãe que passa a noite em claro. “O desaparecimento é pior que a morte. Quando o filho desaparece, você vive a dor da incerteza, um luto inacabado. Nós, mães, carregamos uma dor que não tem remédio, temos uma ferida que não cicatriza”, contou Ivanise.
Em seu relato, ela ressaltou que em meio ao cenário de aflição, criou o projeto em busca de resposta ao desaparecimento de sua filha, Fabiana Esperidião, que sumiu no dia 23 de dezembro de 1995, apenas 120 metros de sua residência. Na época, a menina tinha 13 anos.

“Esse trabalho nasceu a partir do desaparecimento da minha filha. Três meses depois, eu fundei a associação. A partir daí, eu transformei a minha dor numa luta. Em 28 anos de trabalho, eu já atendi mais de 12.000 casos de desaparecimento, não só de crianças, mas de uma forma geral. Nós temos 42% de casos solucionados. Não encontrei minha filha ainda, mas esse trabalho é o que me mantém de pé. Eu acabei ganhando uma família, somos unidas e irmanadas pela mesma dor, que é a dor da perda, pelo mesmo objetivo que é encontrar uma reposta do que aconteceu com os nossos filhos. Quando uma mãe encontra seu filho, a sensação é de dever cumprido, é uma felicidade que se multiplica, é a nossa esperança de que uma hora vai chegar a nossa”.
A aposentada Maria Aparecida Carvalho, que fez papel de mãe também na criação do seu neto, luta bravamente para que o desaparecimento de Samuel Monteiro, de 17 anos, a qual foi criado por ela desde criança, não seja mais um caso sem solução. Segundo a Polícia Civil do Amazonas, o adolescente foi visto pela última vez no dia 23 dezembro de 2022, após sair de casa, no bairro Novo Aleixo, Zona Norte de Manaus.

“Meu neto foi abusado aos 13 anos pelo nosso vizinho e o denunciou. Sumiu quando foi procurar emprego. Ele começou a usar drogas depois do abuso e descobri que o vizinho dava dinheiro para ele sustentar o vício, mas ficou furioso porque o Samuel contou do abuso para uma professora na época. Samuel sumiu dias depois que este vizinho ofereceu um acordo para que meu neto desmentisse o caso e tenho certeza que fez alguma coisa com ele, mas como nega o crime, não tenho como dar fim a essa angústia de não saber o que foi feito dele, nem onde está. Só peço ajuda para que este não seja mais um caso sem solução, porque eu estou lutando sozinha para saber o que houve com o meu neto”, suplicou.
Casos famosos
Shara Ruana Reis, de 7 anos, desapareceu no dia 28 de outubro de 2007, no bairro da Betânia, em Manaus. Conforme os familiares, ela foi à padaria comprar pão e nunca mais foi vista. Apesar dos esforços da família, da polícia e outros órgãos envolvidos no caso, até hoje, nenhuma pista concreta foi encontrada.

“Ainda espero a volta de Shara. Essa ferida está aberta dentro de mim. É uma dor que não desejo para mãe nenhuma. Eu nunca vou parar de esperar ela chegar. Aonde me mandarem ir atrás da minha filha, eu vou”, afirma ou emocionada Alzenira Reis.
Erlon Gabriel Dias Costa, de 2 anos, desapareceu na manhã do dia 6 de fevereiro de 2020, enquanto brincava no pátio de casa, no bairro Tarumã-Açu, Zona Oeste de Manaus. A mãe Maria Dias, disse que, por volta das 11h, preparava o almoço dentro de casa, e o filho brincava no pátio, como de costume. Ela acredita que o filho tenha sido sequestrado.

“Ele tava brincando, aí a gente percebeu o silêncio dele, né? Que ele tinha ficado em silêncio. Aí eu perguntei cadê o Gabriel, aí a minha filha saiu e disse, não sei. Os vizinhos falaram que tinha descido um carro preto que tinha feito de retorno até no final e tinha subido e após esse carro subir é que foi que ele sumiu, né”, afirmou.
Nos últimos anos, projetos de lei já foram apresentados visando auxiliar na busca por pessoas desaparecidas no estado do Amazonas. Cerca de 58 matérias legislativas se encontram na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). Entre elas, ações a serem realizadas na prevenção e combate a esse fenômeno social. Após o prazo, todos os projetos seguem para inclusão na pauta de votação.
O PL n° 1023/2023, da deputada Débora Menezes (PL), visa instituir medidas efetivas para o resgate e a proteção de pessoas em situações de desaparecimento, rapto ou sequestro, com atenção especial em crianças e adolescentes.
O projeto pretende criar um alerta de resgate para desaparecimento, rapto ou sequestro de crianças e adolescentes, estabelecendo diretrizes claras e ágeis para facilitar a localização e pronta recuperação de indivíduos desaparecidos. A proposta busca proporcionar respostas imediatas em casos de risco, minimizando danos físicos, psicológicos e emocionais.
Não precisa esperar 48h
Segundo informações da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), não existe a necessidade de esperar 48 horas. Imediatamente, os pais devem procurar qualquer delegacia e informar o último local em que a pessoa foi vista, suas características físicas, bem como uma foto atualizada.
Nos casos de desaparecimento de crianças e adolescentes, a lei determina que seja feita busca imediata. O caso é informado nas entradas e saídas da cidade, nos portos e aeroportos para que haja uma situação de alerta.
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), sempre destaca em casos de desaparecimento, que o apoio em compartilhamento de imagens nas redes sociais, é fundamental para localizá-las e trazê-las de volta ao convívio familiar.
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