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A preservação da cultura regional por meio das lendas amazônicas

Conheça as lendas amazônicas e a importância delas para a preservação da identidade regional
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Foto: Divulgação/Tv Brasil

Manaus (AM) – Num mundo cada vez mais globalizado, a cultura passa a ser permeada por elementos das mais diversas partes do mundo. Mais especificamente, somos bombardeados pela cultura americana, que se tornou onipresente no imaginário popular com filmes, séries, músicas, alimentação, a língua; em suma, por toda parte.

Por outro lado, a tradição local parece ser lentamente esquecida nas regiões mais atingidas pela globalização, como nas capitais. Assim, as lendas amazônicas são fundamentais para a preservação da cultura local e formação da identidade.

Nesse sentido, as lendas amazônicas expressam o passado dos povos originários e a maneira pela qual concebiam o mundo. Em cada uma pode-se perceber uma tentativa de explicar a realidade que os cerca, bem como a sabedoria adquirida ao longo dos anos.

De acordo com Sergio Flores Pedroso “Quem não vive as próprias raízes não tem sentido de vida. O futuro nasce do passado, que não deve ser cultuado como mera recordação e sim ser usado para o crescimento no presente, em direção ao futuro.“ Portanto, é importante relembrar ou conhecer algumas das histórias que fazem parte da nossa cultura popular, e assim manter a identidade regional viva.

Lenda do guaraná

Diz o folclore amazônico que um casal de indígenas da tribo Sateré-Mawé queria muito ter um filho. Por isso pediram e Tupã lhes deu Aguiry, um menino saudável, lindo e bondoso. Entretanto, sua bondade e generosidade causaram inveja a Jurupari, uma divindade do mal. Ele, então, tornou-se uma cobra venenosa e picou Aguiry. Tupã mandou trovões ensurdecedores alertando os pais do perigo que o filho corria, mas não houve tempo até que a serpente matasse o menino com o seu veneno. Assim, Tupã pediu que plantassem os olhos da criança, pois deles nasceria uma planta com frutos parecidos com os olhos do jovem indígena.

Lenda da mandioca

A história diz que uma índia deu à luz uma menininha e a chamou de Mani. Ela era linda, feliz e tinha a pele bem branca. Um dia, Mani ficou doente e toda tribo ficou preocupada e triste. O pajé foi chamado e fez vários rituais de cura e rezas para salvar a indiazinha. Nada adiantou, e ela morreu. Então, resolveram enterrar o corpinho dentro da própria oca, e os pais regaram o local com água e muitas lágrimas. Depois de alguns dias, nasceu dentro da oca uma planta com a raiz marrom por fora e bem branquinha por dentro (da cor da Mani). Em homenagem a ela, a planta ganhou o nome de Manioca (ou mandioca), uma junção de Mani e oca (a casa indígena).

Lenda do açaí

Conta a lenda que, devido à fome, um cacique determinou que todos os bebês que nascessem fossem mortos, para que houvesse comida para a tribo. E foi isso o que aconteceu. Todos os bebês eram sacrificados para que os outros tivessem o que comer. Porém, um dia, a filha do cacique, chamada Iaçã, também teve um bebê, e teve que matá-lo, de acordo com a determinação do pai. Ela sofreu muito com a perda. Até que um dia, ouviu um choro e, ao sair da oca, viu o seu filhinho próximo de uma palmeira. Foi até lá abraçá-lo, mas ele sumiu. Então, Iaçã abraçou a palmeira e ficou chorando até morrer. No dia seguinte, o cacique viu que a palmeira começou a dar frutos roxos. Esses frutos eram deliciosos e salvaram a tribo da fome. Em homenagem a Iaçã, os frutos ganharam o nome dela ao contrário: Açaí.

Lenda do curupira

A lenda do curupira talvez seja umas das mais conhecidas no folclore popular nacional, e expressa a preocupação dos povos indígenas com a proteção do meio-ambiente. Apesar de não haver uma única versão sobre o curupira, costuma-se acreditar que o curupira tem o cabelo vermelho como o fogo, é pequeno, tem força sobrenatural e possui os pés invertidos, de maneira a confundir aqueles que tentavam o seguir.

O curupira cumpre o papel de guardião das florestas e pune aqueles que vão fazer mal a elas. No entanto, ele só pune aqueles que vão para floresta destruí-la por prazer, assim, os que caçam ou derrubam árvores para garantir sua própria sobrevivência não são punidos por ele. A lenda do curupira aterrorizava os indígenas, e os relatos realizados por cronistas portugueses de séculos passados demonstram isso. Os indígenas consideravam que cadáveres que fossem encontrados na floresta eram de pessoas que tinham sido alvo do curupira, porque ele poderia matar aqueles que a prejudicavam

Lenda do boto

Uma das lendas da Amazônia mais interessante nos conta que o desconhecido, porém belo e bem apessoado rapaz que aparece sem ser convidado nas festas das comunidades ribeirinhas, é na verdade um boto que ao anoitecer se transforma em um cobiçado amante para as mulheres solteiras. Encantador por natureza, o rapaz não passa despercebido e a ele é atribuída A responsabilidade pela paternidade dos filhos de tantas mães solteiras. O cheiro forte de peixe que exala de sua cabeça o obriga a estar sempre de chapéu e seus hábitos noturnos estão ligados ao fim de sua magia, quando se inicia o amanhecer.

Lenda de macunaíma

Nas terras de Roraima havia uma montanha muito alta onde um lago cristalino era expectador do triste amor entre o Sol e a Lua. Por motivos óbvios, nunca os dois apaixonados conseguiam se encontrar para vivenciar aquele amor. Quando o Sol subia no horizonte, a lua já descia para se pôr. E vice-versa. Por milhões e milhões de anos foi assim. Até que um dia, a natureza preparou um eclipse para que os dois se encontrassem finalmente. O plano deu certo. A Lua e o Sol se cruzaram no céu. As franjas de luz do sol ao redor da lua se espelharam nas águas do lago cristalino da montanha e fecundaram suas águas fazendo nascer Macunaíma, o alegre curumim do Monte Roraima.

Com o passar do tempo, Macunaíma cresceu e se transformou num guerreiro entre os índios Macuxi. Bem próximo do Monte Roraima havia uma árvore chamada de “Árvore de Todos os Frutos” porque dela brotavam ao mesmo tempo bananas, abacaxis, tucumãs, açaís e todas as outras deliciosas frutas que existem. Apenas Macunaíma tinha autoridade para colher as frutas e dividi-las entre os seus de forma igualitária.

Mas nem tudo poderia ser tão perfeito. Passadas algumas luas, a ambição e a inveja tomariam conta de alguns corações na tribo. Alguns índios mais afoitos subiram na árvore, derrubaram-lhe todos os frutos e quebraram vários galhos para plantar e fazer nascer mais árvores iguais a ela. A grande “Árvore de Todos os Frutos” morreu e Macunaíma teve de castigar os culpados. O herói lançou fogo sobre toda a floresta e fez com que as árvores virassem pedra. A tribo entrou em caos e seus habitantes tiveram que fugir.

Em suma, estas são algumas das tantas lendas amazônicas que fazem parte do rico arcabouço cultural dos povos originários da região. Por meio delas, podemos compreender a construção da nossa identidade e suas raízes, preservando assim nossa cultura. Apesar do contato com outras culturas ser saudável, é importante também buscar enriquecer o conhecimento daquela a que pertencemos. Então, uma ótima forma de fazer isso é buscar filmes, séries, livros que tratem sobre o assunto, por isso, ficam aqui algumas dicas de livros e séries.

Livros

“Visagens e Assombrações de Belém” é um livro com a compilação de contos fantásticos e de histórias sobrenaturais e de visagens (fantasmas) que povoam o imaginário amazônico e especialmente da região metropolitana de Belém, capital do Estado do Pará. A obra inclusive tem uma nova versão, feita pelo filho do autor Walcyr monteiro, que está prevista para ser lançada em 2023.

Órfãos do eldorado é um livro escrito por Milton Hatoum, escritor amazonense, que em sua trama principal tem o pano de fundo da região amazônica e os causos que permanecem no imaginário popular da população da região. Por meio do seu esmero na construção da narrativa, Hatoum conduz o leitor até essa rica cultura lendária da região.

Séries

Na série Cidade Invisível, Eric (Marco Pigossi) é um detetive da Polícia Ambiental que, após encontrar um boto – cor-de-rosa morto em uma praia do Rio de Janeiro, se envolve em uma investigação de assassinato. A partir desse caso, Eric esbarra em um mundo habitado por entidades míticas que costumam passar despercebidas pelos humanos A produção está disponível na Netflix e passa por diversas lendas do folclore amazônico e brasileiro.

Em uma mistura entre ficção e documentário, Lendas Amazônicas, de 1998, é a adaptação do livro “Visagens e assombrações de Belém”. Então, para aqueles que não são adeptos da literatura, a série é uma boa alternativa para conhecer a obra.

Em síntese, a preservação da cultura é fundamental para a construção da identidade, especialmente frente à globalização. As lendas são parte importante nesse sentido, ajudando a manter a tradição local viva. Além da tradição oral, que é a mais comum entre os povos originários, pode-se utilizar a linguagem escrita e audiovisual para evitar o desaparecimento da cultura nativa, tão ameaçada perante à absorção excessiva da cultura norte-americana.

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