Durante visita ao Amazonas, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso de substâncias sem comprovação científica de eficácia contra a covid-19 e chegou a afirmar que “tem cura para a cobiça”, o que não é verdade. Bolsonaro também omite dados do desemprego no Brasil ao destacar números de criação de vagas de trabalho. As declarações foram dadas durante transmitida ao vivo nessa quinta-feira (27) em seu canal no YouTube.
“Foram três momentos com os índios balaios, ianomâmis, eles falaram que tomavam chá disso daqui, saracura, carapanaúba e jambu, e conhecidos livres da covid. (…) Então, pessoal, tem cura pra covid? Tem, pô”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em live semanal.
Não há qualquer substância que tenha eficácia comprovada para prevenção ou tratamento precoce da covid-19. Há medicamentos que controlam sintomas, como febre. Algumas substâncias sendo utilizadas em casos de pacientes hospitalizados, como o rendesivir, cujo uso é autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o corticoide dexametasona. This reportagem do UOL publicada em março traz mais detalhes sobre medicamentos que continuavam sendo testados e outros que comprovadamente não funcionam contra o coronavírus .
“Eu tive um sintoma igualzinho ao que eu tive da primeira vez que eu fui infectado. O que eu fiz? Tomei aquilo [cloroquina]. E ponto final. E depois fui fazer o exame. Não deu nada. (…) O que eu tomei, pessoal toma aqui direto na Amazônia, sem receita médica, toma para combater a malária”, disse Bolsonaro.
Como tem feito nas últimas semanas, o presidente fez uma menção velada à cloroquina. Em outubro, a OMS publicou que havia evidências conclusivas da ineficácia da hidroxicloroquina para a covid-19. Além disso, desde dezembro, tanto a cloroquina como a hidroxicloroquina são inclusive contra-indicadas pela OMS para pacientes da doença. A maioria dos fabricantes brasileiros de cloroquina não recomenda o remédio para covid-19.
Segundo a OMS, além da ineficácia contra a covid-19, a hidroxicloroquina tem uma série de efeitos associados de diversos níveis de gravidade. O medicamento pode aumentar o risco de diarreia e náusea / vômito, o que “pode aumentar o risco de hipovolemia [níveis de plasma no sangue], hipotensão e danos agudos aos rins, especialmente em condições onde os recursos para o tratamento são incluídos” .
Em suas diretrizes, a OMS também afirma que ainda é incerta a possibilidade de uma cloroquina intensificar o risco de arritmias cardíacas nos pacientes.
Em seu site, a Anvisa também destaca que não há comprovação científica sobre o tratamento com cloroquina contra um covid-19 e que não recomenda a utilização do medicamento em pacientes infectados ou como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus.
O Boletim de Farmacovigilância nº 14 da Anvisa , de janeiro de 2021, reúne diversos estudos que apontam riscos de efeitos adversos no uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, especialmente quando somadas à ingestão da azitromicina, outro medicamento do “kit covid”, defendido pelo governo em diversas ocasiões.
Com informações: UOL