A Polícia Civil do RJ considera “descabido” o argumento de que Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, foi controlada por advogados ou ameaçada pelo namorado, o vereador carioca Dr. Jairinho (sem partido) — como defendem os advogados da professora.
“A única pessoa que foi calada nessa situação toda foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ouvido”, disse o delegado Henrique Damasceno, da 16ª DP (Barra da Tijuca).
O delegado afirmou que Monique ordenou que a babá, Thayná Oliveira, apagasse mensagens e que não falasse o que sabia.
“Não há provas nos autos de que, em qualquer maneira, ela foi subjugada”, completou.
Segundo o delegado Monique teria sido informada na hora. A babá conta o que aconteceu.
“Foi narrado expressa pelo próprio filho. Por isso que eu falo que a pessoa calada foi ele.”
O delegado também comenta sobre a carta de Monique Medeiros divulgada pelo programa Fantástico.
“Vocês notaram que ela trata a morte do filho de uma maneira superficial nesta carta.”
Durante entrevista nesta terça-feira (4), os policiais que conduziram o inquérito, encerrado nesta segunda, detalharam a investigação do caso.
O vereador Dr. Jairinho e Monique foram indiciados por homicídio duplamente qualificado.
Veja abaixo os principais pontos da entrevista:
- “Foi uma mentira do início ao fim”, disse o delegado Henrique Damasceno;
- Houve pelo menos três episódios de agressão de Dr. Jairinho contra Henry em fevereiro antes da morte do menino, e Monique sabia;
- Monique também foi agredida por Jairinho e o chantageou para não prejudicá-lo;
- A babá, Thayná, suavizou as agressões contra Henry, mesmo quando prestou novo depoimento;
- Monique teve diferentes momentos para falar a verdade ou pedir ajuda, mas, ao invés disso, encobriu Jairinho — mesmo nas cartas escritas na cadeia;
- Não é possível detalhar as agressões que mataram Henry — nem o que Jairinho ou Monique fizeram naquela madrugada —, mas “a causa da morte foi violência”, segundo o delegado;
- “Somente uma confissão mostrará o que houve”, concluiu Damasceno.
Agressão e chantagem
A polícia considera um diálogo entre a babá Thayná e seu pai como fundamental para afirmar que Monique Medeiros não era subjugada por Jairinho. Veja mais abaixo o que disse a babá nos dois depoimentos à polícia.
A babá afirma que Monique havia sido agredida por Jairinho e que ele sairia do apartamento. Ainda segundo a funcionária, Monique pediu para que o vereador continuasse pagando as contas para não prejudicá-lo.
“Ele bateu nela. Enforcou. E aí ela disse que ele vai sair”, ela escreve. “Mas que vai ficar pagando as coisas dela. Se não ela vai f** ele. Aí ele tá com o rabo entre as pernas. E disse que tá. Aí passou o dia todo ligando pra ela. Conversando. Chamando de amor. Como se nada tivesse acontecido”, escreveu.
Polícia fala em rotina de brigas
O delegado Damasceno também destacou o que ele chama de “rotina de discussões constantes em relação ao padrasto e a mãe do menino”. E sobre a tentativa de silenciar Monique, o policial completa:
“Em relação ao argumento de calar a Monique, é um argumento descabido. Ela foi ouvida por horas, teve a oportunidade de se manifestar. Numa busca e apreensão na sua casa, estavam só ela é a família.”
Inquérito
A polícia concluiu o inquérito menos de dois meses depois da morte de Henry, no dia 8 de março.
Segundo a investigação, Monique manteve a relação com Dr. Jairinho apesar de todos os sinais de agressão contra Henry — e por isso a mãe teria contribuído para a morte do filho, já que não afastou o menino do vereador.
O político também foi indiciado por outros dois episódios de tortura contra Henry em fevereiro.
Num deles, dia 12, a própria criança e a babá Thayná Oliveira relataram essas agressões numa ligação por telefone com Monique, que estava num salão de beleza. Por causa disso, a mãe está respondendo por tortura por omissão.
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