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Livro aborda cuidados sobre o corpo segundo perpectiva indígena

Lançamento da obra acontece neste sábado, 16 e faz parte das celebrações de cinco anos do Centro de Medicina Indigena
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(Foto: Divulgação)

Manaus (AM) – Os elementos constitutivos do corpo são apresentados sob um modelo de conhecimento indígena no livro “O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro” do antropólogo Yepamahsã (Tukano) João Paulo Lima Barreto. A obra será lançada neste sábado, 16, a partir das 15h, no Centro de Medicina Indígena Bahserikowi (Rua Bernardo Ramos, 97, Centro). O evento é gratuito e compõe as celebrações de cinco anos do Centro.

Segundo João Paulo, o livro apresenta uma teoria de interpretação propriamente indígena sobre a composição do corpo e sua relação com outros elementos do cosmos. Ele explica a importância da perspectiva Tukano como instrumento de equilíbrio e de qualidade de vida a partir de cuidados com o corpo.

“Na concepção dos povos indígenas do Alto Rio Negro, do ponto de vista dos especialistas, o corpo é síntese e microcosmo de tudo que existe. É síntese das qualidades e substâncias que nós, em Tukano, chamamos de Boreyuse kahtiro (“luz/vida”), Yuku kahtiro (“floresta/vida”), Dita kahtiro (“terra/vida”), Ahko kahtiro (“água/vida”), Waikurã kahtiro (“animal/vida”), Ome kahtiro (“ar/vida”), Mahsã kahtiro (“humano/vida”). Qualquer desequilíbrio desses elementos constitutivos do corpo é capaz de provocar desconfortos, doenças, desequilíbrio do corpo. Essa noção é fundamental para os povos indígenas do Alto Rio Negro, para manter os elementos equalizados, para ter qualidade de vida”, explica o antropólogo.

A obra é a primeira tese de doutorado em Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) escrita por um indígena. João Paulo enfatiza que se trata de um trabalho coletivo, no qual propõe contribuir com os estudos antropológicos a partir do ponto de vista indígena.

“Não é um trabalho de um esforço solitário, é um trabalho que compartilhei com meus colegas do NEAI (Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena), com os meus professores, em especial o meu orientador Gilton Mendes. O companheirismo de todos os membros do núcleo, em especial, os colegas indígenas, foi indispensável para o fundamento de termos conceituais indígenas do Alto Rio Negro. Nós queremos contribuir com a Antropologia dando esse olhar indígena, do que seria, do nosso ponto de vista, uma antropologia indígena”, ressalta João.

Dentre as atividades desenvolvidas pelo NEAI, o antropólogo destaca a elaboração de propostas para inserir o ensino de epistemologias indígenas à grade da universidade. “O colegiado indígena, no ano passado, apresentou uma carta à reitoria com o título ‘Ufam mais indígena’. Nesta carta a gente fez várias propostas possíveis de serem implementadas para que se tornem política de ensino das epistemologias indígenas dentro da Ufam”.

Há anos o Prof. Dr. Gilton Mendes acompanha a trajetória acadêmica de João Paulo. Ele explica que a tese desenvolveu o que chama de teoria nativa, uma perspectiva que se constituiu para além de uma antropologia clássica, trazendo uma outra dimensão antropológica.

“É aí que está a novidade e a contribuição da tese e da obra, na minha opinião. O João Paulo foi estimulado, instigado, provocado a produzir uma teoria nativa, digamos assim. Buscar conceitos, categorias, dimensões da narrativa sobre o mundo baseado na sua perspectiva de mundo, eu falo da sua tradição indígena”.

Segundo o professor orientador, o livro traz uma reflexão fina, exigente e profunda sobre o que o autor propõe tratar, pontuando a perspectiva Tukano sobre as relações entre o corpo e o mundo. “Acho que é a sensação que se tem ao ler e conhecer o trabalho dele sobre composição do mundo, composição da pessoa, a articulação entre os componentes dos corpos, do humano em particular, com os elementos do cosmos vegetal, animal, mineral, luminoso, aéreo. Ele trabalha muito bem essa conexão e todas as implicações disso, ou seja, as formas de ataques, agressões, cuidados, proteção sobre esse corpo vulnerável às interferências do mundo e, por isso, merecedor de toda essa atenção”.

“O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro”

O lançamento do livro é resultado de uma parceria entre o NEAI/PPGAS (Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Ufam), a editora Mil Folhas e a Fapeam pelo Posgrad. Mendes relembra que, já com a publicação da dissertação de mestrado, João Paulo despertou o interesse das editoras. Após a defesa da tese de doutorado, três editoras entraram em contato para publicar o trabalho.

“Achamos por bem fazer essa parceria com a editora Mil Folhas que, não só traria benefícios do ponto de vista econômico, mas sobretudo pela proposta que a editora tem de abrir essa coleção Mil Saberes justamente para autores indígenas. A Mil Folhas se tornou uma parceira porque, até mesmo antes do livro do João Paulo, ingressou numa proposta de produzir outras publicações indígenas como o trabalho do Justino Rezende a ser publicado em breve e uma coletânea de textos e autores indígenas, o Paneiro de Saberes”.

A obra pode ser adquirida na Amazon, no site da editora Mil Folhas, pelo NEAI e pelo PPGAS. O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi também é um ponto de venda.

*Com informações da assessoria

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