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Pazuello desmoraliza Exército ao lado de Bolsonaro em ato político? Especialistas analisam cenário

O general e ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Eduardo Pazuello, é alvo também do Exército Brasileiro (EB) após participar de ato político-partidário no último domingo (23), no Rio de Janeiro
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Pazuello e Bolsonaro
Bolsonaro e Pazuello em ato pró-governo, no último domingo (23), no Rio de Janeiro - Foto Reprodução-Twitter- Blog do Noblat

BRASÍLIA – Um dos alvos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado Federal, em Brasília, que investiga as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento da Covid-19 no País, em especificamente no Amazonas, o general e ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Eduardo Pazuello, agora é alvo também do Exército Brasileiro (EB). Isto por que participou de um ato político-partidário no último domingo (23) no Rio de Janeiro (RJ), ao lado do presidente da República.

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O professor e cientista político Luiz Antônio explica que quase todas as instituições de Estado, que é o caso das Forças Armadas e Universidades, por exemplo, possuem normas internas, regimentos, regulamentos, que orientam e estabelecem padrões de comportamento.

“O Exército possui um regimento, e nele diz que um soldado, general, oficial, o corpo militar – em especial o de comando – deve obedecer a alguns princípios éticos e morais. Definitivamente, a presença do general Pazuello na manifestação – depois do depoimento dele na CPI da Pandemia, quando ele diz que defende o uso de máscara, isolamento, diz entender que é preciso cuidar das pessoas, e uma semana depois está em uma aglomeração com o presidente da República, sem máscara, sem distanciamento – viola o regimento das Forças Armadas no que diz respeito ao papel ético e moral que um oficial deve cumprir”, explica Luiz.

Luiz faz o alerta também sobre o descumprimento às medidas de restrição de circulações de pessoas, em período de pandemia no Brasil, estabelecidas por meio de decretos de governos estaduais e municipais.

“Esse general também viola essas regulamentações e orientações dos governos locais. Nesse sentido, há sim o risco de Pazuello ser submetido a penas disciplinares”, analisa o cientista político.

LEIA TAMBÉM: Sem máscara, Bolsonaro causa aglomeração em ato no Rio acompanhado de Pazuello

Professor e cientista político Luiz Antônio – Foto: Arquivo Pessoal

Exposição do Exército

Um outro aspecto importante apontado por Luiz é o de que Pazuello expõe o EB. “Uma coisa é se ele fosse aposentado – que é o caso de Bolsonaro, que é um civil, mas ainda sim há um entendimento geral e universal que você nunca deixa de ser militar. É como um professor, que mesmo aposentado continua sendo jogador de futebol. O que um desses faz em relação às suas atividades, mesmo na condição de reserva [aposentado], não deixa de expor aquela corporação. O que o Pazuello fez foi expor as Forças Armadas, que já estão degradadas, expostas. É provável que ele não seja punido, mas, com certeza, será advertido – ainda que de maneira informal”, acredita o professor.

Para o sociólogo Marcelo Seráfico, a postura do ex-ministro está em perfeita sintonia com aquela que caracteriza o governo Bolsonaro. “Trata-se de mais um ato cujo fim é desqualificar e, no limite, liquidar as instituições democráticas republicanas. Ele e seu comandante, num só ato, desafiaram o Senado Federal, o Exército e o poder executivo da cidade do Rio de Janeiro”, avalia o sociólogo.

Operacional x Intelectual

General Pazuello – foto Divulgação/IstoÉ

Luiz Antônio explica que Pazuello não foi aprovado no conjunto de normas e procedimentos para chegar à condição de general.

“O general Pazuello não cumpriu, não passou pela escola de formação, rotina, liturgia, que você passa e permite chegar à condição de general de primeira linha, de quatro estrelas. Ou você vai ficar em uma posição de general intendente, que é aquele cara operacional, de campo, mas não é o intelectual – que formula as políticas das Forças Armadas”, explica o Luiz.

Ainda conforme o cientista político, Pazuello não passou nas provas que fez para general de primeira linha. “Aí ele tentou por uma ou duas vezes cortar caminho para chegar a general de quatro estrelas e foi mal sucedido, e isso nas Forças Armadas há muito claro uma distinção”.

Distinção

Luiz conta que os generais de quatro estrelas não se misturam com outros. “É como se houvesse ali dentro [no Exército] clubes, corporações, e elas não se misturam. Então, o general Pazuello é um general de segunda grandeza nas Forças Armadas – e essas coisas também podem pesar sobre ele na hora das decisões da instituição militar”, frisa.

Poder nas mãos de grupos milicianos

Já o sociológico Marcelo Seráfico faz um alerta sobre a concentração de poder nas mãos de grupos milicianos de vários segmentos. “Essa agressão e o fim dela estão intimamente conectados a outro objetivo: o aprofundamento do Estado de exceção e da concentração de poder nas mãos de grupos milicianos de vários segmentos, começando por aqueles com os quais o senhor presidente tem evidentes vínculos, passando pelos que se nutrem da destruição do ambiente e pelos que comercializam fé, e chegando às milícias financeiras”, revela o especialista.

A agressão das milícias aos milhões de cidadãos brasileiros é representada pelas duas figuras no ato político, conforme Marcelo explica. “Os dois [presidente e ex-ministro] representavam, ali, a agressão dessas milícias aos milhões de cidadãos brasileiros que não têm nada a ver com elas. Trata-se de mais uma dimensão da necropolítica* do Governo de Bolsonaro, da qual resulta uma multidão de vítimas da Covid-19, da brutalidade policial, do desemprego e da fome”, enfatiza o sociólogo.

‘Picado pela mosca da política’

Cientista político Helso do Carmo Ribeiro – Foto: Reprodução/Portal Tucumã

Para o professor e cientista político Helso do Carmo Ribeiro, Pazuello foi picado pela mosca da política. “O que eu soube é que o comando do EB chegou a suscitar a hipótese de prisão, mas decidiu reformá-lo [mandá-lo para a reserva]. Foi uma espécie de jogada ‘entre mortos e feridos escampam-se todos’. Essa foi a saída cavalheira”, acredita o cientista político.

Ainda conforme Helso, a participação de Pazuello no ato político pró-Bolsonaro do último domingo (23), no RJ, desmoraliza, de certa forma, o Exército Brasileiro. “Além da desmoralização, mostra para o presidente Bolsonaro que ele não é dono do EB, que a instituição tem seus valores e, portanto, não concorda que militar participe de passeata política no Brasil e em nenhum lugar do mundo democrático”, pontuou o cientista político.

*uso do poder social e político para decretar como algumas pessoas podem viver e como outras devem morrer

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