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Estupros ocorrem com frequência dentro de unidades de saúde no Brasil

A estudante de enfermagem Rafaella Antunes Ferreira foi internada na UTI, aos 22 anos, sofria de um distúrbio renal e foi uma das vítimas
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Em abril de 2018, a estudante de enfermagem Rafaella Antunes Ferreira foi internada na UTI do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, gerido pelo Estado de São Paulo. Aos 22 anos, ela sofria de um distúrbio renal que a deixava inchada e sem poder andar ou falar direito.

Presa por muitos fios ao leito hospitalar e mantida com respirador, mas ainda consciente, Rafaella relatou à mãe ter sido estuprada duas vezes no hospital.

Ela morreu em maio daquele ano em decorrência da doença. Até hoje, porém, a autônoma Rosineide Antunes de Souza, 49, luta por justiça e tenta provar o crime que a filha relatou.

O boletim de ocorrência feito pela mãe é um dos 82 casos de estupro (na forma tentada ou consumada) registrados entre janeiro de 2018 e outubro de 2020 dentro de locais da capital paulista que prestam serviços de saúde como casas de repouso, clínicas psiquiátricas, consultórios e hospitais.Os dados são exclusivos e foram obtidos por Universa por meio da Lei de Acesso à Informação.

Os números apontam que, em média, há um registro de estupro dentro de um ambiente de saúde em São Paulo a cada 13 dias. Os locais de maior ocorrência foram hospitais (56), clínicas e consultórios (12) e postos de saúde (5). Desse total, 50 casos (61%) foram registrados como estupro de vulnerável, quando a vítima é menor de 14 anos ou não consegue oferecer resistência. As idades variam de 1 a 68 anos.

“É uma das mais profundas desumanidades abusar de alguém que não tem mesmo uma condição de reagir e está submetida aos seus cuidados”, analisa a advogada Isabela Del Monde, uma das fundadoras da Rede Feminista de Juristas e coordenadora do movimento #MeTooBrasil.

Ao todo, durante esse mesmo período, a polícia registrou 7.688 casos de estupro na capital, uma média de 226 por mês. Em 2019, reportagem do site Intercept reuniu dados de nove estados brasileiros para mostrar que foram registraram 1.734 casos desse tipo entre 2014 e 2019.

“Minha filha não merecia isso”

Moradora de Interlagos, extremo Sul de São Paulo, Rosineide gravou a filha confirmando o crime, e Universa teve acesso às imagens.

Nelas, Rafaella está debilitada, com traqueostomia e uma sonda. Ela fala com muita dificuldade, mas se comunica balançando a cabeça. Para a mãe, ela diz quem é a pessoa e quantas vezes o crime aconteceu.

Rosineide com a filha Rafaella: jovem relatou estupro dentro de hospital - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rosineide com a filha Rafaella: jovem relatou estupro dentro de hospital

Dias antes de minha filha morrer, estava ao seu lado quando ela começou a se mexer muito, meio que se debater, incomodada com a presença de um dos médicos da equipe. Ela mal se comunicava, mas falava repetidas vezes a palavra ‘abuso’. Apontei para órgão dela e perguntei: ‘Alguém fez algo aqui?’. Ela balançou a cabeça de forma afirmativa.

Rosineide prossegue. “Minha filha usava fralda, e eu comecei a perguntar se alguém a tirou, e passou a mão nela. E ela sempre balançando a cabeça. Até eu perguntar: ‘Ele colocou o pinto?’, e ela balançou a cabeça, confirmando de novo.”

A autônoma conta que teve medo de denunciar porque a filha estava mal de saúde, e isso poderia, de alguma forma, prejudicar o tratamento de Rafaella. Por isso decidiu gravar a conversa que teve com ela. Chegou a pensar em pedir transferência para outro hospital. Mas a filha morreu logo depois.

“No ano passado, procurei o Ministério Público e denunciei. Levei os vídeos dela, contei tudo que sabia, mas até hoje não tenho uma resposta. Minha filha foi estuprada em um hospital. Ela não merecia isso”, diz a mãe, antes de descrever com carinho a filha.

Com informações do UOL.

Foto: Reprodução

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