Brasil – Quando pensamos em Páscoa, é difícil não imaginar as prateleiras dos supermercados repletas de ovos de chocolate coloridos e brilhantes.
Mas como esse doce virou símbolo de uma das datas mais importantes do calendário cristão?
A relação entre ovos e a Páscoa é bem mais antiga que o chocolate. Há séculos, ovos de galinha já simbolizavam renascimento, conceito central da celebração da ressurreição de Jesus. Essa ligação com a vida nova também se encaixa perfeitamente com a chegada da primavera no hemisfério norte, estação em que a Páscoa ocorre por lá.
Durante a Idade Média, a Igreja Católica proibia o consumo de ovos durante a Quaresma, o período de jejum e reflexão antes da Páscoa. Só que os ovos continuavam sendo produzidos pelas galinhas, claro. O resultado? Uma abundância de ovos ao fim da Quaresma, que passavam a ocupar lugar de destaque nas festas pascais.

Foi também na Idade Média que surgiram formas inusitadas de contornar as regras do jejum: havia quem criasse ovos falsos para simbolizar os reais. E mesmo após a liberação do consumo, os ovos seguiram como parte essencial do banquete pascal. No século 17, por exemplo, o cozinheiro John Murrell já recomendava uma receita com “ovos ao molho verde”, uma espécie de pesto à moda antiga.
De presente sagrado a tradição real
A tradição de presentear com ovos também tem raízes profundas. Na Europa medieval, era comum oferecer ovos como dízimo às igrejas na Sexta-Feira Santa. Mais tarde, no século 13, o rei Eduardo I da Inglaterra teria presenteado cortesãos com ovos dourados — literalmente cobertos com folhas de ouro.

Com o tempo, a decoração de ovos se espalhou pela Europa. Usavam-se cascas de cebola para o tom amarelo, beterraba para o vermelho e até pétalas de flores para impressões artísticas. Há registros de que os cristãos da Mesopotâmia já pintavam ovos vermelhos para representar o sangue de Cristo.
A chegada do chocolate
Foi só no século 17 que o chocolate chegou à Europa — e não como barra, mas como bebida. Muito caro e exótico, era preparado com pimenta e servido quente, seguindo as tradições astecas e maias. O chocolate rapidamente virou um símbolo de status entre a elite britânica, sendo consumido em casas de chá e oferecido como presente refinado.

Mas a grande virada veio mesmo no século 19. Em 1847, a empresa britânica Fry’s desenvolveu a primeira barra de chocolate sólida. Três décadas depois, criou o primeiro ovo de chocolate, misturando a tradição de trocar ovos decorados com o hábito de dar chocolate como presente.

Na época, os ovos de chocolate eram considerados artigos de luxo, tão especiais que algumas pessoas simplesmente não tinham coragem de comê-los. Um deles, guardado desde 1924, foi parar em um museu inglês. Outro, datado de 1951, ficou 70 anos intacto na casa de uma família no País de Gales.
Sucesso comercial na Páscoa
A popularização dos ovos de chocolate só veio nos anos 1960 e 1970, quando supermercados passaram a oferecer versões mais acessíveis. Desde então, eles se tornaram o símbolo mais forte da Páscoa na idade contemporânea, por conta do apelo comercial e do forte simbolismo que o alimenta carrega.
Propaganda dos ovos de Páscoa da marca Garoto em 1989
Ainda assim, a história do ovo de Páscoa, do símbolo de renascimento ao presente açucarado, mostra a incrível capacidade que as tradições têm de se adaptar, sem perder seu significado original.
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