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Felipe Neto é intimado por chamar Bolsonaro de ‘genocida’

Após vereador Carlos Bolsonaro ter apresentado uma notícia-crime por calúnia, a Polícia Civil do Rio de Janeiro bateu na porta de Felipe para entregar o documento nesta segunda (15)
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É sintomático do momento de estresse vivido pelo clã Bolsonaro a intimação recebida por Felipe Neto para que preste esclarecimentos após ter chamado (ao lado de uma boa parte da internet brasileira) o presidente de “genocida”. É uma absurda tentativa de intimidação, mas também uma cortina de fumaça e um sinal de desespero.

O presidente, como é notório, tem sido um dos maiores aliados do coronavírus. Ostentando um comportamento irresponsável, levou o Brasil a 280 mil mortos, com potencial para outros 280 mil.

Após o vereador Carlos Bolsonaro ter apresentado uma notícia-crime por calúnia, baseada em uma lei que é um entulho da ditadura militar, a Polícia Civil do Rio de Janeiro bateu na porta de Felipe para entregar o documento nesta segunda (15).

Ironicamente o Tribunal Penal Internacional está examinando uma denúncia apresentada contra Bolsonaro por incitar genocídio contra povos indígenas. Dependendo do resultado, a Polícia Civil vai precisar juntar umas milhas para ir até Haia, na Holanda, entregar nova intimação.

Quando Bolsonaro fica acuado, ele joga uma cortina de fumaça que serve para duas coisas. Primeiro, desviar a atenção do que realmente importa.

Pelo documento postado nas redes por Felipe Neto, o procedimento foi iniciado na quarta (10), data do discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – o que pautou a mídia e irritou Bolsonaro.

(Iniciado em lugar errado, diga-se de passagem, porque crimes contra a segurança nacional são de competência federal.)

Na mesma quarta, o Brasil ultrapassou dois mil mortes por covid registradas em 24 horas pela primeira vez – para ser mais específico, 2.349. A marca foi divulgada internacionalmente e colocada na conta de Bolsonaro. Enquanto as mortes disparam, a população está longe de ser imunizada em massa e pessoas passaram fome esta noite pela falta do auxílio emergencial.

Já o delegado do caso não poderia escolher data melhor para entregar a intimação.

Nesta segunda, o Palácio do Planalto anunciou a substituição do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o que é mais uma prova da falência da gestão da pandemia pelo governo. A troca visa a reduzir as críticas sobre Bolsonaro, verdadeiro formulador da antipolítica da pasta.

Além disso, nesta segunda, o UOL publicou uma investigação mostrando que a quebra de sigilos bancário e fiscal de pessoas e empresas ligadas ao então deputado estadual e, hoje, senador Flávio Bolsonaro revela indícios de que o esquema de desvio de recursos públicos também ocorria nos gabinetes do pai, Jair, quando este era deputado federal, e do irmão, o vereador Carlos Bolsonaro.

Outra razão para as cortinas de fumaça é manter excitada a legião de seguidores e fãs, mantendo-a motivada e unida na defesa de seu mito. Esses 12% a 16% da população são compostos de guardiões da radicalidade e, por vezes, da irracionalidade do seu governo. Quando fragilizado, Bolsonaro precisa mais do que nunca de seu rebanho nas ruas e nas redes, atacando críticos e incensando-o.

Outro exemplo: no dia 4 de março, Bolsonaro chamou de “idiota” quem pede que ele compre vacina. “Só se for na casa da tua mãe! Não tem para vender no mundo!”, afirmou em Uberlândia (MG). Algumas horas depois, em São Simão (GO), sapateou em cima daqueles que choram sobre seus mortos. “Vocês [produtores rurais] não ficaram em casa, não se acovardaram. Nós temos que enfrentar nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”

Como efeito colateral, a mídia focou sua cobertura nas declarações e as redes bolsonaristas foram à loucura. Sobrou menos espaço no debate público para a compra da mansão de quase R$ 6 milhões por parte de seu filho, o senador Flávio.

Procedimentos como esse, contra Felipe Neto, tendem a não levar a uma condenação final, como já vimos em outras ações. Quem o utiliza sabe disso, mas vê neles ferramentas para ameaçar e intimidar adversários e, ao mesmo tempo, estimular sua tropa.

Mesmo assim, ferramentas autoritárias como a Lei de Segurança Nacional vêm sendo adotadas à fartura pelo ocupante do Palácio do Planalto. Segundo levantamento da revista Crusoé, sob Bolsonaro, a Polícia Federal abriu 82 inquéritos com base nessa legislação.

E o comportamento da família do presidente vai se replicando por similaridade. Pipocam pelo país casos de pessoas que foram assediadas pela polícia por terem opinião, apesar de não estarem em posição de poder, nem incitarem a morte de um grupo específico.

Protestar contra intimidações como essa contra Felipe Neto é, portanto, impedir que os saudosos dos métodos da ditadura tomem gosto pela coisa e fiquem à vontade. A começar pela família do presidente.

Não bastasse uma alcunha, Bolsonaro parece querer ganhar outras duas: as de censor e ditador.

*Fonte: Uol

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