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28 abril 2024

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Menina tem crise alérgica grave após tomar açaí: ‘Se contorcia’

A menina logo começou a chorar, se contorcer de dor e a apresentar placas vermelhas no pescoço e no abdômen.
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(Foto: Reprodução/Freepik)

O advogado Eduardo Lorenzoni Candeia, de 42 anos, não pensou que viveria um dos dias mais angustiantes de sua vida ao levar a filha de 3 anos para tomar um açaí, em 2023. Uma reação alérgica grave, com anafilaxia, fez com que a menina precisasse ser levada rapidamente para um hospital.

A menina logo começou a chorar, se contorcer de dor e a apresentar placas vermelhas no pescoço e no abdômen. “Em questão de minutos, ela falou: ‘O meu coração vai explodir’”, conta Eduardo. Alice se queixava de dor no abdômen e dificuldade para respirar, além de coçar os olhos, o nariz, e espirrar seguidamente.

Alergia alimentar

A menina foi diagnosticada com alergia alimentar grave ainda bebê, durante a fase de introdução alimentar. Aos 6 meses de idade, ela teve um problema ao comer castanha de caju. Em ocasião depois, em um contato cruzado com leite em um bolo, ela sofreu uma reação ainda mais forte. Foi quando a família buscou ajuda médica e descobriu que a menina tem alergia anafilática à proteína do leite.
Desde então, os pais de Alice adotaram o hábito de avisar sobre a situação da menina sempre que comem fora de casa. Sair para tomar açaí fazia parte da rotina da família, sempre pedindo que o alimento fosse batido em um liquidificador limpo. Porém dessa vez, eles acreditam que o açaí foi preparado em uma superfície onde teve contato com traços de leite. Na alergia, o corpo reconhece o alimento como algo estranho.

Como resultado, o paciente pode desenvolver desde uma reação muito leve – coceira na boca, garganta e um leve inchaço nos lábios – até uma mais grave. Nesses casos, os principais sintomas são vômitos, falta de ar, edema de glote e até anafilaxia. Em uma reação anafilática, falta oxigênio para o cérebro, o que pode deixar sequelas neurológicas. “É o quadro mais temido por todo alérgico, pode acontecer uma parada cardiorrespiratória e alguns pacientes chegam a ficar paralíticos e até morrer”, explica a alergista Valéria Botan, médica na Clínica AlergYa, em Brasília.

Segundo Valéria, a maioria das alergias alimentares começa nos primeiros anos de vida, quando o sistema imunológico e do intestino ainda está em desenvolvimento para aprender a reconhecer e tolerar alimentos novos. Nessa fase, as alergias mais comuns são à proteína do leite, ao ovo e ao trigo. É incomum desenvolver alergias alimentares na vida adulta, mas pode acontecer. As mais usuais são as provocadas por castanhas e frutos do mar. “Cerca de 6% a 8% de meninos e meninas são alérgicos a algum alimento. Aproximadamente 3% começam a ter o problema depois de adultos”, afirma a médica.

Como proceder em caso de crise alérgica
Todo paciente alérgico grave precisa ser acompanhado por um médico alergista para definir um plano de ação personalizado, com a conduta que deve ser adotada diante de uma exposição acidental ao alimento. “Esse plano vai de acordo com a gravidade de reação do paciente”, esclarece a médica.

Em geral, a orientação é que o indivíduo procure o pronto-socorro mais próximo caso suspeite ou tenha certeza que entrou em contato com um alimento alérgeno. Entretanto, nem sempre ele está próximo a uma unidade de saúde. Para as pessoas com reações moderadas a graves, é obrigatório carregar consigo duas canetas de adrenalina injetável para uma ação rápida. A primeira deve ser usada imediatamente e, de cinco a dez minutos depois, se o quadro não for revertido, o paciente deve usar a segunda. O problema é que a caneta de adrenalina não é comercializada no Brasil ou distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que leva algumas pessoas a recorrerem à importação do medicamento ou judicialização.

O processo demorado afeta o prazo de validade do produto.“Esse processo eleva muito o custo. A caneta passa por vários impostos, o que limita o acesso a uma pequena parcela da população que tem poder aquisitivo para comprar o medicamento”, explica a médica. As duas canetas custam, em média, R$ 1,5 mil, a depender do câmbio. No caso da menina Alice, a família recorreu primeiro a um antialérgico e, em seguida, a um corticóide. Sem resultado, os pais tentaram a caneta de adrenalina, mas eles não imaginavam que ela estava vencida há uma semana.


“Nós tomamos um cuidado muito grande com a alimentação da menina Alice e nunca precisamos recorrer à adrenalina. Mas quando uma situação dessas acontece, a caneta precisa estar à mão. O problema é que o medicamento vence rápido porque o Brasil não tem autorização para comercializar o medicamento, então nós temos que importar de outros países”, conta Eduardo.
Quando chega na mão do usuário, depois do processo de importação, a caneta já está com o prazo de validade próximo, durando de um ano a seis meses.

Correria para atender Alice
Ao perceber que o remédio estava vencido, a família correu para o hospital. “Ela chegou com dificuldade para engolir a saliva, chorando muito, espirrando bastante e com muitos edemas na pele”, lembra o pai da menina. O problema só foi resolvido cerca de 40 minutos depois, quando ela foi medicada com adrenalina. “Foi uma das piores experiências possíveis. No momento que aplicaram a adrenalina [na menina Alice], foi como se tirassem o problema com a mão, em um passe de mágica. Em três minutos, as manchas no corpo perderam a intensidade, a pressão foi regulada, e ela parou de reclamar de dor.”Eu me afobo para falar porque foi recente, foi uma experiência bastante sensível”, conta Eduardo.

Hoje, o advogado tenta, junto a associações de pacientes com alergias, regulamentar a importação do medicamento no país. O Metrópoles procurou o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para saber porque as canetas injetáveis de adrenalina não são regulamentadas e comercializadas no país, mas não teve resposta.

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